quinta-feira, dezembro 09, 2010

Capitulo 1

O Peregrino do Deserto
 Parte I
 

“Estamos em 22 de abril do ano de 3022. Não sei se conseguirei sobreviver a este dia. Estou sozinho, cansado e faminto. Já não sinto mais minhas pernas e braços, e o frio desta noite parece dilacerar meu frágil corpo com suas correntes de ar. Eu rezo para que este inferno tenha fim...

— Nós devemos parar, há dias que nós caminhamos neste deserto, há areia em todo o meu visor, Rafael! – Bradou a moça que seguia um homem.

— Você reclama demais, Mello. Parece até uma humana. – Falou o homem em um tom sério, fechado.
— Não gosto quando você fala assim! – Resmungou a mulher.

— Gostando ou não, é a verdade! Em quê mentir tornará as coisas mais fáceis? Não se esqueça de nosso objetivo aqui. – Virou-se para a mulher e murmurou palavras enquanto assistia ela ficar “enfurecida”, até finalmente voltar ao seu estado normal.

— A propósito... – Bradou a mulher – Você acha que encontraremos alguém aqui neste deserto a essa hora? – Continuou.

— Parece que a areia está afetando seu sistema. Estamos à procura de um humano e nos fomos feitos para suportar as piores situações climáticas. Não demos sorte procurando por lugares menos arriscados, agora temos que nos concentrar na missão, está bem, Mello? – Vociferou o rapaz.

— Está bem... – Falou então parando de andar. – O que é aquilo? É a areia em meu sistema ou estou captando alguma onda de calor diferente dessa areia?

— Agora que você falou... O corpo em questão pesa 68Kg, mede 1,77m. Temperatura: 23º. É melhor nos apressarmos. Vamos! – Falou o rapaz.

Eu estava cansado. Minha cabeça doía. Um cobertor me envolvia ajudando a meu corpo a aumentar a temperatura. Uma singela fogueira aquecia o âmbito que se limitava à paredes escuras e brutas, bem distintas das construções atuais. Eu havia morrido? Por instinto me levantei devagar, estava zonzo. Apoiei-me na parede ao lado e então tentei descobrir que lugar era aquele. Eu estava em uma caverna, um pouco de comida e roupas limpas foram deixadas perto de onde eu dormia. O pior já passava pela minha cabeça quando então o barulho de passos ecoou na caverna, que logo esboçava uma enorme sombra perante o fogo. Passei a mão em meu bolso direito, ali deveria estar uma Glock preta modificada, bem, só deveria. Ela não estava! Em pânico, o som dos passos se tornava cada vez mais próximo, e a cada passo dado o medo ganhava mais intensidade dentro de mim...

Eu não sabia o que fazer, tinha que agir rápido. E se fossem eles? Se eu tivesse sido capturado pelas máquinas? Toda a minha jornada seria em vão. Procurei ao meu redor coisas que poderiam me servir de arma, mas nada era útil naquela circunstância, o máximo que eu pude fazer foi me esconder atrás de algumas estalagmites que estavam por ali perto. Eram muitas, eu poderia sair dali, mas ainda estava faminto. Finalmente a figura da qual a sombra estava presa se revelava, era “humano!”.

— Você está aqui, garoto? – Falou o “humano”.

— Quem é você, e o que você quer comigo? Onde estão minhas armas? Onde estou? E como eu cheguei até aqui? – Respondi ainda oculto nas deformações rochosas.

— Me chame de Rafael. Suas armas estão guardadas em um lugar seguro, e você está em um acampamento improvisado. Não queremos nada com você, apenas nós o salvamos da tempestade de areia onde você estava desacordado, criança. – Bradou o rapaz.

— “Nós?” Ele está falando no plural. Isso quer dizer que há mais deles, pelo menos eles parecem humanos. – Pensei e logo indaguei – De que colônia você é?

— Colônia? – Retrucou a máquina.

— Sim. De onde seu grupo é? – Complementei.

— Não tenho permissão para lhe dizer até que você prove o seu caráter. Se me permite mudar de assunto, o que você estava fazendo naquela tempestade de areia andando sozinho? – Falou o rapaz, agora vendo a figura do jovem de madeixas vermelhas e trajes surrados se revelando por trás da figura.

— Isto não lhe diz respeito... – Falei sendo então surpreendido pela figura daquele humano vindo tão veloz em minha direção que meus olhos mal captaram o seu trajeto dele até mim. Estávamos antes a quinze metros de distância e em menos de dois segundos essa distância se reduzia à um metro.

— Escute aqui seu humano de merda. Eu andei por desertos, montes, vielas e todo tipo de local difícil só para buscar você. Enfrentei tempestades, rebeliões, terremotos, maremotos. Até mesmo fui capturado por máquinas e tudo o que ganho quando eu te encontro é má criação? Você não é nada comparado às minhas habilidades pirralho, principalmente sem seus brinquedinhos... – Ameaçou a máquina sendo então interrompida.

— Pare, Rafael! – Uma terceira voz ecoava pelo cenário, agora era feminina.

— O que você pensa que está fazendo? – Continuou a mesma voz.

Aquela voz que em alguma coisa me era familiar seria a minha salvação? Quem seria?
Deus, será que este inferno não terá fim?

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